Nota: Este poema interpreta os sentimentos da alma amante de Maria e as suas relações com a Mãe celeste. A vida de união com Maria é vida de infância espiritual. Maria é Mãe verdadeira, pois deu à alma a vida verdadeira, que é vida de Deus. E a alma consagrada a Deus contrai matrimônio místico com Maria, pois com ela irá dar a vida de Deus àqueles que não a possuem. (Frei Eurico de Mello)
Canto primeiro
Introdução
Ó mundo que te afogas de egoísmo,
Metido no sarcástico abismo
Do nada da matéria e do torpor…
Ó homens que viveis na insaciedade,
Buscando alegria e liberdade
Num reino onde reina tédio e dor…
Eu canto um amor tão incontido,
Que canta no meu peito enlouquecido,
E geme num imenso elanguescer!…
Ouvi este meu verso que é um grito,
Cantando aquele amor quase infinito,
Que eu trago ocultado em meu viver!
Ó gênios que galgastes as alturas
Da glória, em proezas e bravuras,
Lutando pelos grandes ideais,
Ó bravos e febris conquistadores,
Vós todos que ostentais altos valores
E a fama de mil gestos imortais,
Parai na vossa glória alcandorada,
Que eu canto outra ventura mais sagrada,
Riqueza estupenda e sem igual!…
Que vale a vossa fama e o vosso louro,
Perante o valor do meu tesouro,
Fascínio delirante e celestial?
Se grande é vossa honra e ufania,
Maior, porém, é a minha alegria,
Além da glória humana situada!
Por isso, vou cantar essa grandeza,
Cantar esse tesouro, essa riqueza,
Que junto ao coração tenho guardado.
Mas sei que o criticismo da cultura
Vaidosa, rir-se-á dessa candura
Com que meus versos simples vou tecer.
Deixemos, entretanto, que o cinismo
De hoje, envelhece no egoísmo,
Vestido do ouropel do vão saber.
Eu canto para os simples, para os retos,
E não para os inchados e os repletos
Do vento ilusor do engodo chão.
Só as almas da simpleza enamoradas,
Prá luz dos ideais grandes voltadas,
É dado compreender minha canção.
Oh! Sim! Eu vos convido, almas belas,
Ouvi minhas estrofes tão singelas,
Ouvi-lhe o borbulhante soluçar!
Minha ânsia fora então que a terra inteira
Sentisse essa ventura verdadeira,
Que eu sinto nestes versos ao cantar!
Sabeis qual o motivo do meu canto?
Sabeis qual o meu tema sacrossanto?
Sabeis qual o “por que” dessa poesia?
Eu canto com a alma transbordada,
O amor da minha Mãe Imaculada,
E o nome seu tão Límpido: MARIA!
Ó almas, perdoai-me se enlouqueço,
Desculpas pelos erros meus eu peço,
Se nestas expressões eu me exceder!
Eu amo a minha Mãe com tal ternura,
Que morro de delírio e de loucura,
E falo sem pensar no que dizer!
O certo é que passo toda a vida,
Pensando só na minha Mãe querida,
Vivendo ao seu sorriso maternal.
Ó morte, quão imensa é tua demora!
Não vês que tarda tanto a tua hora,
E eu vivo num anseio sem igual?
Por isso vou cantar qual cotovia,
Cantar o amor imenso de Maria,
No ardor da minha infância espiritual.
Não importa que zombeis dessa lhaneza!
Sou criança, e canto c’o a simpleza
Da infância, o meu tesouro virginal!
Sou criança, mister me é, portanto,
Que eu ame a minha c’o afeto santo
Que pulsa em meu pequeno coração.
E um dia, quando a morte vier buscar-me,
Eu peço junto à campa colocar-me,
Qual pedra de epitáfio, essa inscrição:
Aqui foi que parou a voz sentida,
Dum filho que passou por esta vida
Cantando o amor imenso de Maria.
Morreu só de ternura e de saudade
De sua Mãe, que lá na eternidade,
Também dele saudades mui sentia.”